Nos últimos meses, o nome de Flávio Dino tem ganhado destaque não apenas pelas suas ações como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), mas também pela forma como tem lidado com a articulação política e as emendas parlamentares do Congresso Nacional.
Desde que assumiu a corte, em fevereiro de 2024, o ex-governador do Maranhão, ex-deputado federal, ex-senador e ex-ministro da Justiça do governo Lula 3 tem demonstrado um domínio profundo sobre os mecanismos da política nacional, o que vem alimentando especulações, seja de parlamentares ou de uma ala ligado ao petismo do presidente, de que ele estaria se cacifando de olho em uma futura candidatura à Presidência da República, seja já em 2026 ou mais adiante, em 2030.
Flávio Dino, um dos principais nomes da esquerda brasileira, já tem uma trajetória consolidada no cenário político. Como deputado, senador e governador, ele conquistou uma imagem de político pragmático e de forte atuação em temas como direitos humanos, justiça social e meio ambiente. No seu campo político, no entanto, não é unanimidade, seja pelo tom combativo adotado em seus posicionamentos, seja pelo ciúme de sua proximidade com Lula.
A chegada à alta Corte do Judiciário, este ano, indicado pelo presidente, ampliou sua visibilidade e o colocou como um ator chave na judicialização de questões políticas importantes, mas também lhe conferiu uma plataforma que vai além do campo jurídico. E alvo de quem se irrita com suas decisões.
Decisões sobre emendas viram queda de braço com Legislativo
Um dos gestos mais notáveis de Dino tem sido sua postura em relação às emendas parlamentares, um dos mecanismos mais importantes de articulação política do Congresso Nacional.
Deputados federais e senadores manobram a distribuição de recursos do Orçamento da União – garantidos constitucionalmente – como instrumento de poder em suas bases eleitorais. No entanto, a falta de transparência e rastreabilidade no uso dessa verba bilionária do dinheiro público fez com que o ministro do STF encampasse um movimento a fim de tapar o ralo por onde o dinheiro escorre e não vai para as obras e programas públicos, como deveria.
Nos bastidores da política em Brasília, há uma percepção – ainda embrionária, mas que vem tomando corpo – de que o ministro do Supremo tem usado sua experiência e seu conhecimento político, único entre seus pares na Corte, para ganhar espaço e consolidar uma rede de apoio que pode ser fundamental caso decida disputar a presidência no futuro.
O fato de Dino ser um político experiente, com passagens pelo Congresso e pelo governo de um estado como o Maranhão, com alto índice de aprovação quando deixou o cargo, inclusive, lhe confere uma base política sólida.
Porém, o que tem gerado desconforto entre os parlamentares é justamente a sua habilidade de manipular esse jogo das emendas, algo que muitos veem como um desafio à sua capacidade de negociação.
Relação entre Dino e os parlamentares é ambígua
Por um lado, muitos deputados e senadores veem o ex-ministro da Justiça como um interlocutor eficaz, capaz de negociar e de viabilizar projetos importantes. Por outro, há o receio de que, ao concentrar tanto poder, Dino acabe colocando os parlamentares em uma posição de fragilidade, especialmente aqueles que não têm uma relação estreita com ele.
Alguns deputados comentam que, por sua experiência no Legislativo, Dino sabe exatamente como as emendas podem ser bem ou mal aplicadas, neste último caso abrindo espaço para a corrupção e desvio de dinheiro público, o que dificulta qualquer tipo de contra-argumentação ou oposição por parte do Legislativo.
O ministro do STF se destaca por adotar um discurso técnico e combativo, especialmente em relação às questões ambientais, algo que lhe confere visibilidade e o coloca como um defensor do que ele considera ser um projeto de nação mais alinhado com os interesses das futuras gerações.
Esse tipo de postura, aliada ao seu rigor no Poder Judiciário no controle sobre as emendas parlamentares, reforça a ideia de que Flávio Dino está se preparando para algo maior. Há quem diga que ele parece estar construindo uma imagem de líder capaz de dialogar com diferentes setores da sociedade e do governo, sem perder sua identidade política e seu vínculo com a esquerda.
Ao mesmo tempo, suas atitudes de desconfiança e crítica ao Executivo e ao Legislativo mostram um certo distanciamento estratégico, sinalizando que ele não está apenas satisfeito em cumprir o papel de ministro do STF, mas que tem uma visão mais ampla para o futuro político do Brasil.
Esquerda ainda segue sem nome capaz de ocupar liderança de Lula
Porém, a grande dúvida que persiste é: Flávio Dino realmente deseja disputar o Planalto ou sua atuação é parte de uma estratégia para fortalecer sua posição política, sem necessariamente vislumbrar uma candidatura presidencial?
A resposta a essa questão pode depender de como o cenário político se desenhará nos próximos anos com a esquerda órfã de Lula. Aos 79 anos, o presidente ainda que com força política, não é tido como uma liderança disposta a governar o Brasil quase aos 90 anos de idade.
Por enquanto, o ministro do Supremo segue sendo uma figura-chave no xadrez político brasileiro, alguém que sabe jogar o jogo do Legislativo, do Executivo e do Judiciário e que, provavelmente, terá um papel central nos anos vindouros. (O Tempo)
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