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Os implicantes

Virou o ano e agora temos este, 2020, número lindo, espelhado, bom de escrever, desenhar, bissexto, pelo menos enquanto não vier alguém implicar com ele até por isso, pois se implicam com tudo. E se até o Papa se dá o direito de dar uma bifas por aí…
Com o que você implica? Todos nós andamos implicantes com alguma coisa ultimamente, repara só. Claro que nem preciso dizer, para começar, que implicar com o atual governo, desgoverno, sua equipe, as bobagens que proferem ou ameaçam, o próprio e seus filhotes, o pacotão todo, é quase que obrigatório, cidadania, vigilância, alarme ligado. Se até quem o botou lá agora está implicando. E se até o Papa…
Mas tem muita gente por aí implicando com coisas que absolutamente não lhes dizem respeito, nem de perto, e que não fazem parte nem diferença para as suas vidinhas normais. É até engraçado em alguns casos como os carolas nos lembram as “Senhoras de Santana” – lembram? Elas adoravam uma censura.
Mas isso pode ser perigosíssimo em tempos estranhos.
Antes que impliquem comigo, repito, admita: todos somos um pouco implicantes. Com mau humor a coisa piora, dobra, a gente até procura com o quê ou com quem implicar. Eu, por exemplo, ultimamente, assumo e vou dar um exemplo, ando completamente implicante – vejam só que bobagem – com homens que usam bermudas e meias ¾ puxadas, bem esticadas, até em cima, arrumadinhas. Tenho gana de pular na perna deles e baixar a meia. O que eu tenho a ver com isso? Nada. Eu bem sei. Mas dei de implicar com isso. Nunca ataquei nenhuma perna, não se preocupem, que ainda não cheguei nesse nível. (ainda). Não ofereço riscos. Mas prometo tentar parar logo com essa implicância, que tenho muito mais o que fazer.
Justamente sobre isso que falava. Sobre implicâncias também poderem desencadear violências, intolerâncias. Uma coisa é você implicar dentro da sua cabeça; outra, tentar com que outras pessoas impliquem também com a mesma coisa. Isso muito facilitado pela loucura das redes sociais. É o que está acontecendo no caso do filme do pessoal do Porta dos Fundos para a Netflix, que até onde sei não está obrigando ninguém a assistir – se estiver, me avisem correndo que não tenho ainda assinatura e vou aproveitar para maratonar as séries legais deles. Nessas primeiras
horas do ano, já implicaram com o Sabonete Phebo porque custaria três reais; um pouco mais com a Greta Thunberg que adorariam ver ferver na Austrália e, pior, o Trump implicou de tal forma com o Irã que está nos pondo a todos à beira de uma Grande Guerra, fora o petróleo já custando barris de dólares.
Tem gente que ouviu cantar o galo num sei onde e fica piando igual sabiá no outro canto. Daí para a frente é um pulo: pedem censura, implicam com quem os artistas transam ou deixam de transar, quem com quem, implicam com os espetáculos que fazem e sobre o qual não têm a menor noção. Com o que comem ou deixam de comer, se engordam ou se estão magros. Não tô vendo gente implicando, quase mesmo que excomungando o próprio Papa? Ouvi até citarem a Lei Maria da Penha (!) porque ele teria dado as palmadas nas mãos de uma mulher – e olha que ele já pediu desculpas – fez um mea-culpa – quase se atirou lá da sacada do Vaticano.
Agora também estou vendo uma novidade na área de implicância – a feita contra quem morreu, e que não poderá mesmo se defender a não ser puxando o pé quando os implicantes estiverem dormindo. Assombrando.
Cada dia mais temos tantas coisas sérias para nos preocupar e essas, sim, implicarão em tudo o que viveremos nesse 2020 em diante. Vamos tentar todos implicar menos com o que não nos diz respeito. Viver e deixar viver. Bem, claro, até que impliquem com a gente, que se defender é questão de honra.

(*) Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de “Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também”, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.


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