As matas do Turiaçu e Gurupi foram cenários de algumas das maiores perseguições aos negros cativos da Baixada Ocidental Maranhense. A Fazenda Juçaral, às margens do Rio Parauá (hoje com a corruptela de Paruá), próximo ao famoso quilombo do rei Cris-Santo foi um dos lugares de onde se partiram várias diligências policiais para a captura de amocambados, inclusive com ajuda de oficiais da Guarda Nacional. O Quilombo de Cris-Santo, que existiu entre os anos de 1810 a 1853, ganhou notoriedade na Província do Maranhão devido a seu temor em razão de empreendidos ataques a fazendas de suas adjacências e por sua proximidade com as Minas de Ouro às margens do Rio Maracaçumé descobertas pelos próprios aquilombados e, com os quais desenvolveram um sigiloso comércio na Região do Médio Turiaçu.
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É interessante de se notar que a literatura brasileira menciona que os chefes dos mocambos eram chamados de "reis" pelos seus subalternos, o que é justo, pois estas "monarquias" conseguiram manter vívida a resistência em uma floresta fechada, sendo os negros fugitivos, perseguidos, ora por índios bravios ora pela polícia que tratava o desvinculamento das senzalas um crime contra a economia do Império do Brasil. Sendo assim, mantém-se como inesquecíveis heróis na história de resistência negra entre os rios Turiaçu-Gurupi, não apenas Cris-Santo, más também "rei" Estevão (do Quilombo de Limoeiro-Rio Gurupi) e "rei" Daniel (do Quilombo de São Benedito do Céu-Rio Bonito, afluente do Turiaçu), sendo este último "monarca", muito influenciado pelo ideal libertacionista do eterno "Imperador Bem-ti-vi", o negro Cosme, principal líder da Balaiada.
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O que me chama a atenção quanto à pesquisa que fiz sobre a presença quilombola em minha região, é destacada importação do Rio Parauá como local de quilombos anônimos (comum no época) e conhecidos (como o de Cris-Santo). Atualmente este rio é a divisa natural entre os municípios de Nova Olinda, Presidente Médici, Santa Helena e Santa Luzia do Paruá. Antes de os índios Ka'apor se assenhorearem do Parauá (seguramente depois de 1878), destacamentos militares eram enviados para tentarem encontrar escravos fugitivos que podessem está aquilombados a sua volta, o que é possível que tenha havido, pois segundo a pesquisadora Raimundinha Araújo, muitos destes locais de confinamento não foram identificados até por conta dos contantes deslocamentos como artifício de defesa . O pesquisador Flávio dos Santos Gomes, chega a mencionar o Parauá como o lugar para onde os negros não-capturados refugiaram-se após a diligência policial ao Quilombo de São Benedito do Céu, em 1858. Vale lembrar que na a aproximação das diligencias policiais, faziam os quilombolas desertarem em algum esconderijo na floresta, de forma que haviam os quilombos de subsistência (com poucas casas) e os quilombos bélicos (em que os amocambados preparavam-se para um eventual conflito em defesa de sua autonomia), estabelecendo uma sociedade ampla, em comunicação direta entre ambos, inclusive com os negros ainda cativos nas censalas de Santa Helena, Pinheiro, Viana, etc..
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A luta bicentenária dos negros e seus remanescentes pela autonomia de sua raça nas hidras do Turiaçu, tem e ainda pode gerar muitos louros de conquista as suas histórias de bravura (o tempo pode tornar vencedores os que a história formal fadou como vencidos). Um exemplo prático disso, é o processo de titulação de terras quilombolas, em quais, só recentemente o Governo do Estado encomendou um estudo antropológico para certificar-se da presença de remanescentes de quilombolas as margens do Rio Turiaçu e seus afluentes, entre os tais, o Rio Paruá . Sob o prisma de uma tardia justiça, após anos de conflitos em torno da questão fundiária, este mês de novembro, São Joaquim da Linha (Presidente Médici), que, equivocadamente foi mencionada pelo censo do IBGE e pelo Iterma como pertencente à Santa Helena, receberá técnicos do Estado para cumprir uma agenda política que visa a regularização de lugares ocupados há anos por remanescentes de quilombos.Os técnicos do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes), estarão realizando em vários locais do Estado, um amplo trabalho do Programa de Regularização Fundiária do Estado em comunidades remanescentes quilombolas. Colocando de lado esta questão de divisas e de histórico fundiário local, o que importa saber é que o Rio Paruá não é apenas um simples lagadiço da BR-316 por onde se achegaram grileiros, posseiros e retirantes em décadas recentes, pois há anos, índios Ka'apor e quilombolas já disputavam a fertilidade dos territórios que ficavam a sua volta.
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Pesquisa de Luís Magno Alencar
Pesquisa de Luís Magno Alencar
Fonte: Pesquisador Luís Magno
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