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quarta-feira, 25 de março de 2015

ARTIGO: O #perfil de uma QUEBRADEIRA DE #COCO BONJARDINENSE.


Dona Eunice. Foto/Reprod. Tony Barone.
Fruto de um trabalho acadêmico, o empresario radialista e futuro jornalista Tony Barone pesquisou a vida de uma senhora que criou filhos e netos com a quebra de coco, na oportunidade também fez entrevista com a mesma para saber um pouco mais da vida dessa bonjardinense . Dona Eunice como é conhecida reside no Pov. Vila Abreu distante apenas 3 KM de Bom Jardim.


- Vamos conhecer a história de vida e luta de Eunice Carmina de Alencar. 55 anos, natural do povoado duas barracas, zona rural de Santa Luzia – MA. Nasceu em 1960, divorciada, católica, quebradeira de coco, mãe de sete filhos e avó de 22 netos. Pessoa simples, querida, humilde e de grande valor pessoal e profissional. Uma mulher de muita garra e determinação onde dedicou toda a sua vida a família e ao cultivo do coco babaçu. 

Na Vila Abreu, povoado onde reside, Eunice é carinhosamente conhecida como baixinha do carvão.

Chegou ao município de Bom Jardim - MA em 1978, quando deixou sua terra natal, em busca de oportunidades de trabalho. Em bom jardim encantou - se pela hospitalidade do povo e pelos belos verdes bomjardinenses, inclusive das palmeiras de babaçus.

Sua paixão pela agricultura e o babaçu, vem de berço. Filha de lavradores, Eunice começou a ajudar seus pais na lavoura ainda criança, aos dez anos de idade, onde na roça, capinava, encoivarava, plantava arroz, feijão, mandioca, milho e ainda ajudava na colheita. Entre o intervalo do plantio e da capina, Eunice juntava e quebrava coco babaçu. Na mesma época, ela já quebrava 05 litros de coco por dia que é equivalente a dois quilos e meio. Com vinte e três anos, Eunice já quebrava por dia vinte litros de coco, um total de dez quilos.

Casou-se aos 13 anos, com o senhor João Nóia da Silva, com quem conviveu até 2004.

O cultivo do babaçu é um fator presente no cotidiano de Eunice. Além de juntar, transportar e quebrar o coco, ela também produz seus derivados. São eles: O azeite, o carvão, chocolate e o sabão de coco.

Para ela, nada pode ser desperdiçado. Do coco ela capricha na fabricação do azeite e da casca do coco produz o carvão. Até a péa (película do coco), a massa da casca e a borra do azeite tem suas utilidades. A péa é utilizada para ascender o fogo do carvão feito da casca do babaçu. Com a massa da casca ela faz chocolates e com a borra do coco revitaliza os pelos de animais: cachorros, cavalos e gatos.

O coco babaçu sempre foi e continua sendo a principal fonte de renda de dona Eunice. Que com a ajuda de dois animais (jumentas) transporta o coco colhido em soltas de pecuaristas. O coco com casca é transportado até o povoado vila Abreu, onde na casa do coco, local de trabalho de Eunice, ela faz a extração manual, utilizando um machado e um cacete.

Após quebrar o coco, dona Eunice acende a caeira e faz a casca do coco virar carvão. Depois de descobrir a caeira, o carvão é ensacado e transportado novamente pelos animais até seus compradores na cidade de Bom Jardim, distante 03 km do Povoado. Já o azeite de coco, tem grande procura e é vendido na residência de dona Eunice ou por encomendas.

As mãos de Eunice carregam as cicatrizes da profissão. Movimentar um machado, ferramenta afiada que parte o coco a pedaços, é uma questão de equilíbrio. Se faltar com a atenção, o (a) quebrador (a) de coco pode ter os dedos cortados ou mutilados.

Com a idade já um pouco avançada e a saúde comprometida, aos seus 55 anos, Eunice continua desenvolvendo suas atividades, mesmo de forma reduzida. Os filhos pedem para ela parar, mas Eunice diz não conseguir pois ama o que faz e que não pretende ficar sedentária.

No povoado de dona Eunice existem aproximadamente 40 quebradeiras de coco. Algumas apenas quebram e vendem o coco, outras fazem apenas o carvão. Eunice é uma das poucas que exploram por completo o babaçu.

Eunice ainda não é aposentada e teve seu bolsa família cancelado sem saber o motivo.

Com o cultivo do babaçu, Eunice vai levando a vida, sustentando sua família, sempre alegre, determinada e dando graças a Deus.

ENTREVISTA:

Tony Barone: O que o babaçu significa pra senhora?
Eunice: O babaçu pra mim é tudo, é o sustento da minha família e me faz sentir-me realizada profissionalmente.

Tony Barone: A senhora sente-se uma mulher realizada na vida? 

Eunice:Sim, tudo que já conquistei devo ao babaçu. Tenho uma família maravilhosa, sou muito querida e respeitada na comunidade onde moro.

Tony Barone: A senhora nos contou que começou a ajudar seus pais na roça, muito cedo aos 10 anos de idade, tendo que trabalhar, deu para brincar na sua infância?

Eunice: Muito pouco. Só podia brincar aos domingos porque tinha que trabalhar durante a semana para ajudar meus pais na roça.


Tony Barone: Se a senhora ganhasse na mega Sena e ficasse rica da noite pro dia, a senhora largaria o coco?

Eunice: Não. Mesmo milionária continuaria quebrando meu coquinho.

Tony Barone: Porque a senhora prefere produzir o azeite de coco, o que dar mais trabalho, ao invés de apenas vende-lo quebrado? Não seria mais prático?

Eunice: Eu prefiro não vender o coco, porque fazer o azeite é mais lucrativo. O preço do quilo do coco quebrado ainda é muito desvalorizado. Quebrando e torrando eu ganho mais.

Tony Barone: Como é feito o preparo do azeite de coco?

Eunice: Primeiro eu torro o coco, piso, cozinho e boto para apurar (acentuar) separando o liquido da borra. Não é tão simples, leva tempo, são mais ou menos umas 08 horas de relógio pra ficar pronto.

Tony Barone: Dentre os trabalhos que a senhora faz, qual o que lhe agride mais?
 
Eunice: O calor e a fumaça do carvão. É o que mais me prejudica. Sinto-me cansada e noite e às vezes não consigo dormir direito com dor nos pés.

Tony Barone: No seu ponto de vista, o que causou o desinteresse, principalmente das mulheres, pela quebra do babaçu? Que explicação a senhora encontra para a escassez dessas quebradeiras de coco que hoje é um número bem inferior do que há 15 anos atrás?

Eunice: Digo com toda a segurança que foi o bolsa família e a pesca. As pessoas estão muito acomodadas com esta ajuda do governo e não querem mais trabalhar. Antes no mato, encontrávamos muitas mulheres quebrando seus cocos, hoje em dia é raro encontrar alguém.

Tony Barone: A senhora já tem idade para se aposentar. Porque ainda não conseguiu?

Eunice: Porque tive meu processo indeferido por falta de dois papéis, um da escola e outro do hospital, corri atrás e já dei entrada. Estou aguardando a resposta e confiante que agora vai dar certo.

Tony Barone: Antes a senhora tinha e ajudava bastante. Hoje a senhora não tem mais e ele faz muita falta. O que aconteceu com o seu bolsa família?

Eunice: Foi cancelado sem motivo. Sempre fiz a atualização do cadastro. Más em setembro de 2013, recebi uma ligação da secretaria de assistência social, onde me pediram a confirmação da minha identidade. Após prestar as informações que queriam o benefício foi bloqueado. Suspeito que agiram de má fé. Fui lá diversas vezes mais não obtive êxito. Já acionei o ministério público que garantiu me ajudar.

Tony Barone: Quando a senhora pretende parar de quebrar coco?

Eunice: Quando estiver bem velhinha e não poder mais. Até lá, embora meus filhos peçam para eu parar, não consigo ficar sem quebrar meu coquinho. Além do mais tenho medo de ficar sedentária. Enquanto eu tiver forças estarei trabalhando.

Tony Barone: Como está atualmente à procura pelo babaçu e seus derivados produzidos pela senhora? Falta cliente? Ou produto?

Eunice: Falta produto. Eu vendo bem meu carvão e meu azeite. As pessoas me ligam, fazem reserva, vão buscar na minha casa. Faço de tudo para não deixar faltar, pois a procura é grande.

Tony Barone: Para transportar o coco babaçu, principalmente em grande quantidade, a ajuda de animais, geralmente jumentos, é muito importante. É verdade que a senhora já foi mordida por um deles?
Eunice: Verdade, Inclusive prefiro a jumenta por ser mais dócil pois o jumento é muito arisco. Fica descontrolado ao ver uma jumenta. Fui mordida por um deles no bumbum. Doeu muito, ficou roxo e tive que tomar duas injeções. A ajuda de um animal é fundamental porque leva o coco e o carvão em maior quantidade.

Tony Barone: Pra finalizar nossa entrevista, a última pergunta: Quais os valores dos produtos que a senhora vende e como podemos adquiri-los?

Eunice: Eu vendo o azeite de coco, vendo o coco quebrado a porções, geralmente para quem deseja fazer um prato no leite de coco que é muito gostoso, e vendo também o carvão a R$ 5,00 a lata. O litro do azeite oscila muito de preço, hoje está custando R$ 14,00 e na semana santa, devido à grande procura, pode subir para R$ 15,00.



- O material exposto como mencionado acima foi fruto de um trabalho acadêmico do curso de comunicação social e jornalismo da faculdade IBECEC que no qual Tony Barone e eu Rafael Gonçalves estamos cursando.



Informações www.bomjardimma.com - Com textos e imagens de Tony Barone.

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